terça-feira, 2 de outubro de 2007

Dia nublado

Acordo cedo e olho pela janela da sala. Vejo o horizonte todo esbranquiçado. Na verdade vejo não muito longe, tudo meio branco e meio denso, os topos dos prédios baixos cobertos pelo nevoeiro, e o sol escondidinho atrás das nuvens. O horizonte? O horizonte eu nem vejo. Eu posso simular um sorriso e dizer mentalmente "Oba, neblina!" Até tento. Mas os 34°C e o cheiro de fumaça não deixam. E cadê as gotinhas d'água que deveriam cobrir as folhas das árvores, como em toda cerração matinal?

Dia cinza, ar seco, e termômetros em disparada. O ar raleia um pouco ao longo da manhã. Parece menos cinza, e o sol um pouco mais brilhante. Subo no ônibus ao meio-dia e não encontro um lugar pra sentar. Fico de pé, de frente para a janela dos fundos, olhando a rua correr debaixo dos meus pés. A fumaça que sai dos carros se mistura à fumaça do ar, e à fumaça do cigarro nos dedos do velho no ponto de ônibus, e à fumaça da casa que eu vi queimar há três dias, e à fumaça do fogo que risca o morro de Santo Antonio há semanas, tantas que eu não consigo me lembrar.

O ar entra pelas narinas secando tudo, até os pulmões. Os faróis andam à meia-luz, no meio da fumaça do meio-dia. O dia está cinza, o céu enfumaçado, o sol apagado, e o ar tão quente e denso como eu nunca vi. Se eu filmasse esse dia, e alguém de longe pudesse assistir, esse alguém me perguntaria por que as pessoas não estão agasalhadas, ou com guarda-chuvas, em um dia tão nublado, no meio de tanta névoa, com cara de que vai chover. E a moça do tempo anuncia: "Previsão de chuvas em Cuiabá a partir do dia 15 de outubro." Quinze! E o termômetro da avenida me informa: meio-dia e um, 41ºC.

Ao meio-dia e meia já estou resguardada no conforto do ar-condicionado, recebendo as boas notícias que eu já sabia que viriam, e pensando em toda aquela fumaça lá fora.

Acendo um cigarro e dou a minha contribuição ao dia nublado que me consome. Penso na fumaça, nas boas novas, na fumaça...



L.

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